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Mesa-redonda

Atenção, alunos do 3º Ano! Vamos aprofundar nossa relação com Machado de Assis?

Para a próxima aula, leiam os arquivos deste blog, escolham um para comentar.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Receita de Ano Novo - Drummond

                                                 
                                                    
RECEITA DE ANO NOVO

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser; novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
(Drummond)

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Parnasianismo: a estética da "arte pela arte"!

Olá, meninos e meninas!

Como ficou definido por nós no primeiro dia de aula, pesquisamos, discutimos e analisamos textos realistas/naturalistas e poemas parnasianos!

Nossa avaliação contemplará tudo o que foi trabalhado nas nossas aulas. Para relembrar, vejamos as imagens abaixo que nos trazem muito do que foi o Parnasianismo: estética antirromântica que, muitas vezes, fechou-se na busca da perfeição formal. 










domingo, 20 de março de 2011

Celem e suas tradicionais "Jornadas de Conhecimento"

O Colégio Estadual Luís Eduardo Magalhães  estará promovendo, em julho, sua VII Jornada de Conhecimento - modalidade: workshop. Para este ano, o tema serão os grupos sociais estereotipados como minorias.

Em 2010, o projeto trouxe o tema "Educação, cidadania e ecosofia... vamos tecer essa rede? Foram três dias de muita diversão e construção de saberes. Dia 29 de setembro, deu-se a abertura no Ginásio de Esportes  do nosso Município com duas provas - "Dançando no CELEM" e "Homenagem ao nosso saudoso professor Lauro" -  que deveriam ser cumpridas por todas as equipes dos três turnos.

Foram momentos de alegria, solidariedade e posicionamento crítico. A maior repercussão do evento foi a prova Tecendo a rede da Educação, Cidadania, Ecosofia. Os componentes das equipes, através da doação de pessoas da comunidade, ajudaram algumas famílias proporcionando-lhes o que se chamou de "Lar doce lar".











domingo, 20 de fevereiro de 2011

Machado no contexto CELEM 2011!

Sem dúvida, esta é uma experiência única...

Nós temos conversado muito sobre Machado durante as nossas aulas.
Mas por que falar sobre o "Bruxo do Cosme velho" - O mestre da ironia e do pessimismo?


Vejamos o que nos diz o professor Basilio Losada, doutor em filosofia pela Universidade de Barcelona e catedrático de Literatura Galego-Portuguesa:

"Meu primeiro contato com a literatura brasileira foi um contato casual. Encontrei um livro, não de Machado de Assis, e sim de Jorge Amado, em um sebo de Barcelona. Naquela época, minha curiosidade se concentrava na literatura portuguesa. Encontrar um livro brasileiro foi uma aventura fascinante, descobri na realidade um mundo. Depois como editor, tive a possibilidade de editar livros de Jorge Amado, de Autran Dourado - cheguei tarde à leitura de Machado de Assis.
Através de um curso de doutorado na Universidade de Barcelona, quis fazer algo novo, algo que nunca se tivesse feito nessa Universidade, e li Machado de Assis. Descobri logo que muitas das coisas que eu admirava em Kafka ou em Dostoievski estavam já perfeitamente manifestadas na obra de Machado de Assis. Vale dizer, não era um escritor de seu tempo, ainda que fosse também um escritor de seu tempo - a sociedade do Rio no Império com seus conflitos substanciais -, mas havia algo muito mais profundo: descobrir o outro lado da realidade, descobrir a face oculta das coisas. E isto numa linguagem cheia de ironia e de ambigüidade, uma linguagem prudente, nada definidora, que rompia com o que era tradição no romance realista europeu.
No momento em que um editor amigo e meu companheiro na Universidade me propôs traduzir um livro de Machado de Assis, pensei que das grandes obras de Machado de Assis, da série de três esplêndidos romances, já havia numerosas edições traduzidas para o espanhol, edições argentinas. Então, procurei um livro que não estivesse no catálogo imediato que qualquer leitor espanhol poderia ter em mãos. E li Helena.
Maravilhou-me que neste romance está todo o romantismo, está o conflito de amores impossíveis ou aparentemente impossíveis, a vontade de transgressão, o descobrimento da liberdade. Algo que é essencial em Machado de Assis: a presença feminina dominante, com uma sensualidade extrema e livre. Como se essas mulheres dos relatos de Machado de Assis percebessem que a liberdade dos sentidos é também uma parte muito importante que tentam constantemente arrebatar-nos, mas é uma parte muito importante da liberdade do homem.
Li Helena apaixonadamente, esquecendo inclusive um pouco a trama, o centro da obra, que responde a uma formulação romântica, teórica, normal. Mas logo descobri ali muitas coisas, descobri isto: o lado oculto dos homens. Descobri que parece que Machado de Assis possuía um escalpelo, um bisturi para - por trás das atitudes do homem, das atitudes que exibimos, daquilo que nos serve para manifestarmos em sociedade, havia realidades mais ocultas, mais profundas, desassossegantes, inquietantes: mostrarmos a outra face do homem.
E ele o faz sem acentuar o magistério, faz simplesmente com um instrumento que é a ironia. Por exemplo, me surpreendia em Helena, quando se fala dos políticos, do mundo da política, observando também, do outro lado, quando alguém - agora não recordo quem é - disse que ele nunca poderá ser um oficiante da política, o que mais poderá chegar a ser é um sacristão da política.
Uma pavorosa história de amor, porém profundamente humana. Por debaixo da tensão romântica, tensão sempre um pouco artificial, há umas personagens reais, possivelmente umas personagens cuja visão do mundo tenha sido deformada através da literatura.
Assim, o que Machado de Assis sabe perfeitamente, é que por trás do que a sociedade nos fez ser, dos elementos que tivemos que construir, nós mesmos, para sermos apresentáveis na sociedade, há sempre uns tremendos abismos. Por isso, minha imagem de Machado de Assis está muito próxima do que extraí de minhas leituras de Dostoievski. Não é, como se julgava no seu tempo, um Anatole France, um narrador burguês, um narrador da vida social; é algo muito mais profundo, um explorador da vida oculta do homem.
Não sei se já se estudou todo o conteúdo pré-freudiano que existe na narrativa de Machado de Assis. Possivelmente, se eu agora tivesse 30 anos, possivelmente me decidiria a fazê-lo. Infelizmente, já não me resta tempo, não me resta vida para algo tão profundo e tão denso. Porém, algumas vezes, recomendei aos meus alunos: ler Machado de Assis. Não é um escritor provinciano, de uma província da literatura, quero dizer, é pai de uma literatura, e em certa medida, pai de um país que se encontrou a si mesmo analisando, lendo e analisando a obra de Machado de Assis, e descobrindo em seus poços escuros esses abismos inquietantes que existem sob a aparência de serenidade e de conformismo social."

Disponível em <http://www.academia.org.br/abl_minisites/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=73&sid=21&UserActiveTemplate=machadodeassis>

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

DISSIMULAÇÃO: teu nome é mulher?



Gosto particulamente do conto "Missa do galo". Há nele uma ambientação sensual através de uma mulher que nos chega pela voz de um rapaz de 17 anos.

"NUNCA PUDE entender a conversação que tive com uma senhora, há muitos anos,
contava eu dezessete, ela trinta. Era noite de Natal."
 Assim, o narrador-personagem nos introduz na narrativa que, a princípio, nos seduz pela aparente força de uma mulher reprimida e enclausurada num casamento convencional. Seu poder de sedução, no entanto, está nas páginas antológicas da literatura brasileira:

"Entretanto, um pequeno rumor que ouvi dentro veio
acordar-me da leitura. Eram uns passos no corredor que ia da sala de visitas à de jantar; levantei a cabeça; logo depois vi assomar à porta da sala o vulto de Conceição.
— Ainda não foi? perguntou ela.
— Não fui, parece que ainda não é meia-noite.
— Que paciência!
Conceição entrou na sala, arrastando as chinelinhas da alcova. Vestia um roupão branco, mal apanhado na cintura. Sendo magra, tinha um ar de visão romântica..."

"Conceição ouvia-me com a cabeça reclinada no espaldar, enfiando os olhos por entre as pálpebras meio-cerradas, sem os tirar de mim. De vez em quando passava a língua pelos beiços, para umedecê-los. Quando acabei de falar, não me disse nada; ficamos assim alguns segundos. Em seguida, vi-a endireitar a cabeça, cruzar os dedos e sobre eles pousar o queixo, tendo os cotovelos nos braços da cadeira, tudo sem desviar de mim os grandes olhos espertos."
"Havia também umas pausas. Duas outras vezes, pareceu-me que a via dormir; mas os olhos, cerrados por um instante, abriam-se logo sem sono nem fadiga, como se ela os houvesse fechado para ver melhor. Uma dessas vezes creio que deu por mim embebido na sua  pessoa, e lembra-me que os tornou a fechar, não sei se apressada ou vagarosamente. Há impressões dessa noite, que me aparecem truncadas ou confusas. Contradigo-me, atrapalho-me. Uma das que ainda tenho frescas é que em certa ocasião, ela, que era apenas simpática, ficou linda, ficou lindíssima. Estava de pé, os braços cruzados; eu, em respeito a ela, quis levantar-me; não consentiu, pôs uma das mãos no meu ombro, e obrigou-me a estar sentado. Cuidei que ia dizer alguma cousa; mas estremeceu, como se tivesse um arrepio de frio voltou as costas e foi sentar-se na cadeira, onde me achara lendo."
 Mas passado o deleite dessa figura feminina que talvez - porque o "Bruxo" é o mestre da ambiguidade - busque naquele momento uma lembrança que dê sentido a sua vida formalizável, começamos a pensar que, "quase sempre quando falamos sobre o outro, falamos contra o outro".

Quem é essa mulher na ótica machadiana que nos chega por  uma figura masculina por quem,  sub-repticiamente, insinua ter sido seduzido. Ela tem um poder que não é capaz, contudo, de minar os alicerces de uma sociedade machista, patronalista e preconceituosa. Nesse jogo, teria ela -  teríamos nós -  o desejo recôndito de nos sentir desejadas, admiradas? Ou simplesmente estamos reproduzindo a velha fórmula bíblica: pecado, teu nome é mulher!

Vamos desconfiar desse narrador?

Venha discutir conosco enquanto esperamos a próxima "Missa do galo"!!!!!!